sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Discurso de Oliveira Salazar

Em 27 de Abril o Dr. Salazar discursa na sala do Conselho de Estado a propósito
da tomada de posse como Ministro das Finanças agradecendo o convite formulado pelo
general José Vicente de Freitas, e desta vez em definitivo.
 "Sei bem o que quero e para onde vou."

Agradeço a V. Ex.ª o convite que me fez para sobraçar a pasta das Finanças, firmado
no voto unânime do Conselho de Ministros, e as palavras amáveis que me dirigiu. Não
tem que agradecer-me ter aceitado o encargo, porque representa para mim tão grande
sacrifício que por favor ou amabilidade o não faria a ninguém. Faço-o ao meu país
como dever de consciência, friamente, serenamente cumprido.
Não tomaria, apesar de tudo, sobre mim esta pesada tarefa, se não tivesse a certeza de
que ao menos poderia ser útil a minha acção, e de que estavam asseguradas as
condições dum trabalho eficiente. V. Ex.ª dá aqui testemunho de que o Conselho de
Ministros teve perfeita unanimidade de vistas a este respeito e assentou numa forma de
íntima colaboração com o Ministério das Finanças, sacrificando mesmo nalguns casos
outros problemas à resolução do problema financeiro, dominante no actual momento.
Esse método de trabalho reduziu-se aos quatro pontos seguintes:
a) Que cada Ministério se compromete a limitar e a organizar os seus serviços
dentro da verba global que lhes seja atribuída pelo Ministério das Finanças;
b) Que as medidas tomadas pelos vários Ministérios, com repercussão directa nas
receitas ou despesas do Estado, serão previamente discutidas e ajustadas com o
Ministério das Finanças;
c) Que o Ministério das Finanças pode opor o seu veto a todos os aumentos de
despesa corrente ou ordinária, e às despesas de fomento para que se não
realizem as operações de crédito indispensáveis;
d) Que o Ministério das Finanças se compromete a colaborar com os diferentes
ministérios nas medidas relativas a reduções de despesas ou arrecadação de
receitas, para que se possam organizar, tanto quanto possível, segundo critérios
uniformes.
Estes princípios rígidos, que vão orientar o trabalho comum, mostram a vontade
decidida de regularizar por uma vez a nossa vida financeira e com ela a vida
económica nacional.
Debalde, porém, se esperaria que milagrosamente, por efeito de varinha
mágica, mudassem as circunstâncias da vida portuguesa. Pouco mesmo se
conseguiria se o País não estivesse disposto a todos os sacrifícios necessários e
a acompanhar-me com confiança na minha inteligência a na minha honestidade
-confiança absoluta mas serena, calma, sem entusiasmos exagerados nem
desânimos depressivos. Eu o elucidarei sobre o caminho que penso trilhar,
sobre os motivos e a significação de tudo que não seja claro de si próprio; ele
terá sempre ao seu dispor todos os elementos necessários ao juízo da situação.
Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao
fim em poucos meses. No mais, que o País estude, represente, reclame, discuta,
mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar.
Queria dizer a VV. Ex.ªs que me foi singularmente grata a homenagem de simpatia que
quiseram tributar-me, não por aquilo que ela representa de motivo de vaidade para
mim, mas pelo que traduz de apoio necessário à obra que todos desejam ver realizada.

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